A PAIXÃO - nenhum momento humano se iguala ao da paixão! Poder-se dizer que o momento apaixonado é clímax do ser; é vida em fúria, energia pura do âmago do ser humano, consumindo almas! Mesmo a dor, força equivalente na sua ameaça, não tem na sua simetria, nada que mobilize tanto o primeiro quanto a paixão!

A paixão é um momento, quer dure segundos ou dure toda uma vida podendo até transcendê-la, perpetuando-se nos por ela contaminados!

A paixão é a fantasia suprema, o maior dos engodos que a natureza nos reserva no pingo de vida que desfrutamos como a conhecemos!

A paixão é o realizar-se do divino!

Na paixão, tudo explode com força máxima: de hormônios a fantasias, de dores a planos para a eternidade, da vontade de morrer à da vida eterna!

Na paixão deixamos de ser o que queremos e o que podemos para tornar-se, a qualquer preço, o que queremos.

A paixão é cega? Não! A paixão nada vê porque para nada olha e nada percebe em torno a si; paixão não tem olhos!

A paixão cega? Não! A paixão anula tudo e todos! Quando em nós, nada mais existe senão ela, logo a nada ela pode cegar! Tudo fica em suspenso! É isso: o momento da paixão é um momento de suspensão da vida, substituída por algo além dela ou da sua expressão, como a conhecemos!

A paixão é o nada e o tudo de tal forma juntos que se confundem com o próprio conceito de espaço e tempo; o apaixonado é algo; não é ninguém! O privilégio é ser um apaixonado. Ou melhor: deixar-se a si próprio e a tudo e fazer-se fazer um apaixonado!

Ah! E as armadilhas da paixão? Não! Não há armadilhas da paixão! Há a armadilha do amor. A paixão é uma parte da teia. É a captura. É a fuga impossível. É o não querer fugir, ainda que alguma suposta razão o mande! É o desejar a prisão e os ferros!

O apaixonado é o escravo mortalmente ferido pelo amor às suas cadeias, sejam biológicas, poéticas ou filosóficas!

Texto de CLAUDIO BAHIA,

retirado de http://www.usinadeletras.com.br